segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mania de perseguição.

"Ganhar ou perder são imagens que temos de momentos que vivemos e de pessoas com a quais nos surpreendemos. Não sei, amigo, se você tem medo das perdas ou das pedras que surgem por aí. Ou se a paciência já é convidada do seu alimento diário. Persigo a paciência como persigo a inquietação. Não quero deixar as coisas como estão. Quero mudar o mundo, sim, e para isso preciso também da paciência. E da cumplicidade. Sozinho, sou incapaz de prosseguir, até porque os medos contemporânios não me abandonaram. Sozinho, sou capaz de desistir."

(Gabriel Chalita)

domingo, 24 de julho de 2011

...sobre chás, sofás e madrugadas.

Gostoso demais de ouvir!

Oração.

Recomeço.

Não é preciso agendar, entrar em fila, contar com a sorte, acordar cedo para pegar senha: a possibilidade de recomeço está disponível o tempo todo, na maior parte dos casos. Não tem mistério, ela vem embrulhada com o papel bonito de cada instante novo, essa página em branco que olha pra gente sem ter a mínima ideia do que escolheremos escrever nas suas linhas.
O que é preciso mesmo é ter coragem para abrir o presente.
(Ana Jácomo)

E eu... cheia de pensamentos dos outros hoje! Um misto de sentimentos tão meus, que tudo que eu acabo encontrando por aí me serve de alguma forma.

...

"De algum modo, sentia que estava ficando meio maluco.
Mas sempre me sentia assim.
De qualquer forma a insanidade é relativa.
Quem estabelece a norma?"

(Charles Bukowski)

C. L. me entende.


"Outra coisa que não parece ser entendida pelos outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar sobretudo a inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem sequer li as obras importantes da humanidade. [...] Literata também não sou porque não tornei o fato de escrever livros ‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis. Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal."

Clarice Lispector

Visível aos olhos de quem quer ver.

"Quando a gente começa um blog, acha que vai conseguir manter o mínimo de distanciamento e não se expor tanto assim. Com o tempo, vemos que é quase impossível, os dedos disparam no teclado, o pensamento flui, o texto sai sem cortes. A insegurança vai embora, parece que as ideias organizam elas mesmas os parágrafos. As imagens também falam, às vezes até mais do que eu. Depois de postar, eu saio leve. E se não venho, sinto falta, o dia não fica completo. Dividir é isso, a gente tem que se dar um pouquinho. Aqui eu gesticulo sem mover um músculo, meu coração é co-autor. Ter um blog é deixar a chave da casa embaixo do tapetinho. Pode entrar e se servir dos meus escritos."
(Magali Moraes)


Entre e sirva-se, como disse Magali Moraes acima. Sirva-se dos escritos, dos textos dos outros, das frases poéticas, das notícias escancaradas. Dos momentos, dos blocos de notas, das músicas ouvidas e expostas com destinatários certos. Dos gostos, das entrelinhas, dos pensamentos. Sinta-se à vontade para aproximar-se. O mundo é particular, a divisão é pública. O espaço é meu, mas a leitura é nossa! 

Para saber quem somos.

Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. Quem é você? Do que gosta? Em que acredita? O que deseja? Dia e noite somos questionados, e as respostas costumam ser inteligentes, espirituosas e decentes. Tudo para causar a melhor impressão aos nossos inquisidores. Ora, quem sou eu. Sou do bem, sou honesto, sou perseverante, sou bem-humorado, sou aberto - não costumamos economizar atributos quando se trata da nossa própria descrição. Do que gostamos? De coisas belas. No que acreditamos? Em dias melhores. O que desejamos? A paz universal. Enquanto isso, o demônio dentro de nós revira o estômago e faz cara de nojo. É muita santidade para um pobre-diabo, ninguém é tão imaculado assim. A despeito do nosso inegável talento como divulgadores de nós mesmos e da nossa falta de modéstia ao descrever nosso perfil no Orkut, a verdade é que o que dizemos não tem tanta importância. Para saber quem somos, basta que se observe o que fizemos da nossa vida. Os fatos revelam tudo, as atitudes confirmam. O que você diz - com todo o respeito - é apenas o que você diz. Entre a data do nosso nascimento e a desconhecida data da nossa morte, acreditamos ainda estar no meio do percurso, então seguimos nos anunciando como bons partidos, incrementamos nossas façanhas, abusamos da retórica como se ela fosse uma espécie de photoshop que pudesse sumir com nossos defeitos. Mas é na reta final que nosso passado nos calará e responderá por nós. Quantos amigos você manteve. Em que consiste sua trajetória amorosa. Como educou seus filhos. Quanto houve de alegria no seu cotidiano. Qual o grau de intimidade e confiança que preservou com seus pais. Se ficou devendo dinheiro. Como lidou com tentativas de corrupção. Em que circunstâncias mentiu. Como tratou empregados, balconistas, porteiros, garçons. Que impressão causou nos outros - não naqueles que o conheceram por cinco dias, mas com quem conviveu por 20 anos ou mais. Quantas pessoas magoou na vida. Quantas vezes pediu perdão. Quem vai sentir sua falta. Pra valer, vamos lá. Podemos maquiar algumas respostas ou podemos silenciar sobre o que não queremos que venha à tona. Inútil. A soma dos nossos dias assinará este inventário. Fará um levantamento honesto. Cazuza já nos cutucava: suas idéias correspondem aos fatos? De novo: o que a gente diz é apenas o que a gente diz. Lá no finalzinho, a vida que construímos é que se revelará o mais eficiente detector de nossas mentiras.

E mais um texto nesta madrugada de sábado chuvoso de Martha Medeiros. Minhas idéias querendo corresponder aos fatos. Eu, sem dizer nada: calando, sentindo, agindo. Sem muita paciência para hipocrisias e futilidades declaradas. Fugindo e me perdendo. Quem sabe não me acho por aí!

Carta extraviada.

 
 
"Não é da minha natureza esperar que me dêem liberdade, não espero pelo pouco que há de essencial na vida. Sendo liberdade uma delas, eu mesmo me concedo. Ser livre não me ensinou a amar direito, se por direito entende-se este amor preestabelecido, mas me ensinou as sutilezas do sentimento, que, afinal, é o que o caracteriza e o torna pessoal e irreproduzível. Te amo muito, até quando não percebo. O amor que eu sinto pode parecer estranho, e é por isso que o reconheço como amor, pois não há amor universal: não, caríssima. Não há um amor internacional, assim como são proclamados os cidadãos do mundo. Cada cidadão, um coração, e em cada um deles, códigos delicados. Se não é este o amor que queres, não queres amor, queres romance, este sim, divulgadíssimo. Te amo muito, e não sinto medo. Bela e cega, buscas em mim o que poderias encontrar em qualquer canto, em todo corpo, homens e mulheres ao alcance de teus lábios e dedos, romance: conhecido o enredo, é fácil desempenhá-lo. E se casam os românticos, e fazem filhos e fazem cedo. O amor que sinto poderia gerar casamento, pequenos acertos, distribuição de tarefas, mas eu gosto tanto, inteiro, que não quero me ocupar de outra coisa que não seja você, de mim, do nosso segredo. Te amo muito, e pouco penso. Esta carta não chegará, como não chegarão ao seu entendimento estas palavras risíveis, estes conceitos que aos outros soariam como desculpa de aventureiro ou até mesmo plágio, já que não há originalidade na idéia, muito difundida, porém bastante censurada. Serei eu o romântico, o ingênuo? Serei o que quiseres em teu pensamento, tampouco me entendo, mas sinto-me livre para dizer-te: te amo muito, sem rendimento, aceso, amor sem formato, altura ou peso, amor sem conceito, aceitação, impassível de julgamento, aberto, incorreto, amor que nem sabe se é este o nome direito, amor, mas que seja amor. Te amo muito, e subscrevo-me."

(Martha Medeiros)

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Falando de perfume...

O aroma é mais uma das perfeições que a natureza nos deu e do qual o homem soube divinamente aproveitar com a criação dos perfumes. Embora não nos damos da importância do sentido do olfato em comparação aos outros sentidos, ele está intimamente ligado às nossas experiências emocionais. É mágico como uma substância etérea é captada pelo nosso cérebro ativando as mais diferentes memórias e reações emocionais.
Como a maioria das pessoas, sou louca por perfumes. Vários me trazem lembranças e me levam ao melhor delas. E por que não nos remetermos à história?
A arte da elaboração do perfume nasceu no Egito, em cerca de 3000 aC, que utilizavam nas suas orações uma fumaça aromática que acreditavam chegar mais rápido aos deuses. Por volta de 2000 a.C., os primeiros clientes foram os faraós e os membros importantes da corte; logo, o uso do perfume se difundiu; trazendo um agradável toque de frescor ao clima quente e árido do Egito. Por volta de 1500 aC, com a rainha egípcia Hatsheput, surgiram vários rituais de beleza, como a utilização de cones perfumados na cabeça, que derretiam ao sol forte e desta forma protegiam e hidratavam a pele.
A egípcia Cleópatra marca o uso dos aromas como artifício de sedução. Untava o corpo com essências aromáticas, criando em torno de si uma aura mágica. Recebia Marco Antônio, seu grande amor, em uma cama coberta de pétalas de rosa.
A difusão do perfume por toda a França ocorreu através do rei Luís XV e sua amante Madame de Pompadour. Isto porquê ela, fiel ao estilo rococó, ditava a moda, a beleza e a arte da época. Gastava horas no banho com sabonetes de lavanda e ervas, incrementava seu penteado com pomadas de rosas, suas luvas eram perfumadas com violeta e neroli.
Na época da belle époque os perfumes e artigos de toilette ganharam nova expansão. Mulheres elegantes lotavam os cafés parisienses exalando fragrâncias variadas. No século XX, a perfumaria francesa já estava definitivamente ligada à moda.
Em 1920, floresce a carreira da estilista Coco Chanel, promovendo uma revolução ao lançar o imortal Chanel no. 5. Em 1940, surgem novas tendências olfativas, que insinuavam a sensualidade e o luxo, e teve sua consagração com o clássico Miss Dior, de Christian Dior. Em 1950, sob o ritmo do rock n´roll, surge o primeiro perfume americano, Youth Dew de Estée Lauder. Em 1970, jovens estilistas como Kenzo, Mugler, Calvin Klein e Donna Karan optam pela simplicidade dos florais. Em 1980, com a demanda de fragrâncias densas, surgem Poison, LouLou, Paloma Picasso e Samsara. Nos anos 90 a globalização permitiu que os perfumes fossem apreciados por diferentes pessoas e não somente as elites. O ícone da década foi Angel, de Thierry Mugler.
A criação de um perfume pode ser considerada uma arte. O nosso olfato é capaz de reconhecer 3000 cheiros. Como será então identificar cada um deles e fazer uma mistura quase ilimitada dos mesmos, perfeita e inesquecível? Esta arte pode ser comparada à composição de uma música, inclusive na linguagem utilizada pela parfumaria.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Senza fine.

Música linda! Boa para sentir, dançar, voltar no tempo, nem que seja por alguns instantes e embriagar-se com sorrisos e lembranças boas de se ter.

Senza Fine (Sem Fim)

Senza fine - Sem fim
Tu trascini la nostra vita - Você arrasta nossa vida
Senza un attimo di respiro - Sem um breve momento de respiro
Per sognare - Para sonhar
Per potere ricordare - Para poder recordar
Ciò che abbiamo già vissuto - Aquilo que já vivemos
Senza fine - Sem fim
Tu sei un attimo senza fine - Você é um breve momento sem fim
Non hai ieri, non hai domani - Não tem ontem, não tem amanhã
Tutto è ormai nelle tue mani, - Agora tudo está nas suas mãos
Mani grandi, mani senza fine - Mãos grandes, mãos sem fim
Non m'importa della luna, - Não me importa a lua,
Non m'importa delle stelle, - Não me importam as estrelas,
Tu per me sei luna e stelle - Você para mim é a lua e as estrelas
Tu per me sei sole e cielo - Você para mim é sol e céu
Tu per me sei tutto quanto, - Você para mim é tudo
Tutto quanto voglio avere - Tudo o que eu quero ter
Senza fine - Sem fim.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Embebedei-me.

Recentemente me deparei com uma linda frase sobre o vinho: "wine is a look into the heart of a place" (Karen Macneil).
Literalmente, vinho é um olhar dentro do coração de um lugar. Não é poético?
Há algum tempo tenho me aprofundado mais no assunto, apurando olfato e paladar, desvendando os mistérios desta arte a cada nova garrafa. Gostei da frase, pois sabe-se que apesar da espécie de uva utilizada ser a mesma, por exemplo, uma cabernet sauvignon, o sabor do vinho vai ser muito influenciado pelo terroir. que significa originalmente uma extensão limitada de terra considerada do ponto de vista de suas aptidões agrícolas (particularmente à produção vitícola). Logo, um cabernet sauvignon vindo de Bordeaux (França) ou Mendoza (Argentina) serão diferentes, terão suas características próprias, sua alma própria. Desta forma, entrando no espírito da frase, é como se você estivesse bebendo o sangue daquela terra, a alma, a essência do lugar. É o homem, com toda a sua habilidade e conhecimento, extraindo de determinada região o âmago da terra, aquilo que a faz ser especial. Os antigos tinham esta percepção, como podemos ver pela citação do cientista romano Plínio (24-79) "O vinho é o sangue da terra."

* Vinho, néctar dos deuses, consolo dos mortais, uma bebida maravilhosa que tem o poder de afastar as preocupações e de nos dar - mesmo por um instante - a visão do paraíso. Vinho possui substâncias anti-oxidantes e aumentam o bom colesterol, impedindo a obstrução das artérias. Os franceses que o digam, pois têm uma das mais altas expectativas de vida. Mas não podemos esquecer também que eles comem sentados, com calma e desfrutam de cada bocado do prazer da refeição. Os vinhos realçam o sabor da comida.
Fonte: Afrodite, contos, receitas e outros afrodisíacos - Isabel Allende.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Boemia.

Boemia é a prática de um estilo de vida não-convencional, geralmente vivido por pessoas envolvidas com objetivos ligados à música, arte ou literatura. Muitos boêmios foram e são artistas, ou aventureiros, que viviam de forma alegre geralmente à noite.
É um fenômeno social e literário que aconteceu em diversos pontos do planeta e em diferentes épocas. Aparentemente, o termo boêmio surgiu no meio literário francês no século XVII, para caracterizar estrangeiros, ciganos, que tinham um estilo de vida às margens da sociedade da época, que se pensava virem da Boêmia (região da República Tcheca), usado de forma pejorativa.
Mas foi no auge do romantismo francês do século XIX que o termo se popularizou, através de escritores como Balzac, e pela coleção de estórias de Henri Murger, Cenas da Vida Boêmia, publicada em 1845, escrita para glorificar e legitimizar a Boemia. Algumas óperas famosas que buscavam retratar a realidade social da época utilizaram esta temática, como Carmen de Bizet e La Bohème de Puccini, esta última com libreto inspirado nestes contos de Henry Murger. O termo irradiou-se pelos bairros franceses do Quartier Latin, Montmartre e Montparnasse, bairros conhecidos por abrigar estudantes, filósofos, escritores, artistas, sonhadores que se reuniam nos seus cafés para trocar as suas idéias, vivendo de forma livre e excêntrica, procurando romper, através da arte, com as forças mercadológicas que estavam surgindo com a ascensão da burguesia. Foi um momento rico, artística e emocionalmente, levantado por estes excêntricos que acreditavam em um mundo mais simples e mais belo. Dentre eles podemos citar os pintores Amedeo Modigliani, Henry de Toulouse-Latrec, Edgar Degas, Van Gogh, Pablo Picasso e os escritores Jean Paul Sartre, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald.
No Brasil, também tivemos uma boemia ativa como movimento no Rio de Janeiro do século XIX, representada pelos escritores Aluísio de Azevedo, Olavo Bilac e Coelho Neto, por exemplo. Enfim, o termo boêmio descreve uma pessoa, não importa a sua procedência, que viva da arte de uma forma não convencional, muitas vezes abrindo mão de recursos financeiro. Nos dias de hoje o termo perdeu o seu sentido original daquele que busca uma ruptura com o sistema através da arte, para caracterizar aquela pessoa que só vive nos bares, que não faz nada de produtivo, aqueles que chamamos de vagabundos. É uma pena esta distorção. De qualquer maneira, tenho certeza de que muitas pessoas gostariam de poder se dedicar à sua arte, seja música, literatura, pintura, mas acabam abrindo mão destes sonhos pelas exigências da sociedade capitalista.


"Boemia... a que me tens de regresso, e suplicante te peço a minha nova inscrição..."
Nelson Gonçalves

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Meia noite em Paris.

Um filme de Woody Allen.
Allen adere ao realismo fantástico para discutir uma imagem de Paris que, amargamente, os americanos engoliram ao longo do século 20: é a cidade que prestigia os mestres, um lugar onde artistas sem crédito nos EUA podem se refugiar para ter seu valor reconhecido. Uma cidade-museu. Não deixa de ser irônico: o cineasta que não conseguia financiamento para rodar em Nova York e partiu para uma bem-sucedida turnê de filmes europeus, ao chegar em Paris, debate essa própria acolhida.
O filme é uma delícia, encantador, mágico! Traz o retorno a uma época belíssima. Fui inundada de nostalgia, de leveza, de musicalidade.
Recomendo.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

... Leveza.


Abençoadas sejam as surpresas risonhas do caminho. As belezas que se mostram sem fazer suspense. As afeições compartilhadas sem esforço. As vezes em que a vida nos tira pra dançar sem nos dar tempo de recusar o convite. As maravilhas todas da natureza, sempre surpreendentes, à espera da nossa entrega apreciativa. A compreensão que floresce, clara e mansa, quando os olhos que veem são da bondade. Abençoados sejam os presentes fáceis de serem abertos. Os encantos que desnudam o erotismo da alma. Os momentos felizes que passam longe das catracas da expectativa. Os improvisos bons que desmancham o penteado arrumadinho dos roteiros da gente. Os diálogos que acontecem no idioma pátrio do coração. Abençoada seja a leveza, meu Deus.
(Ana Jácomo)

Depois disto, quero leveza, todas as belezas, e surpresas. Quero afeiçoar-me, não quero ter tempo de recusar a dança. Quero apreciar a bondade, quero abrir presentes. Quero encantar-me, sempre, mais uma vez, e cotidianamente.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Pluralidade.

A sociedade é plural. É diversa, variada, cheia de diferenças. Alguém já se achou igual por aí? Todos somos únicos, e todos somos diferentes. E isso parece tão óbvio que chega a doer. Dói aos olhos, dói na identificação. A sociedade está repleta de minorias, e todos os dias é cada uma defendendo-se. Mas e a defesa, é de que/quem, mesmo? De si mesmo? Dos outros?
Homossexuais. Negros. Índios. Albinos. Transexuais. Travestis. Altistas. Ateus. Prostitutas. Pobres. Nordestinos. E o que define mesmo a razão pela defesa dos direitos? A diferença? Por Deus!
Ser diferente, já é por si só uma obrigação. Pensamento não se iguala, no máximo, se identifica. E as afinidades são variadas, devem ser respeitadas.
Daqui a pouco, vou ter a necessidade de me apresentar assim: Eu? Meu nome é Amanda, crente em Deus, crente na vida, crente nos homens. Nordestina, a favor dos gays, dos héteros, do livre arbítrio pra fazer da sua vida o que você quiser. Defensora do seu direito de ir e vir, de dizer o que pensa, de mudar de sexo se sentir necessidade. Mas não ofenda a mim, nem agrida a você mesmo. Roube só meus sorrisos, agrida só meu mau humor, só desrespeite minha vontade quando esta por em perigo meu dicernimento - e olhe lá! Tenha caráter, tenha valores, carregue amor. O que você é ou deixa de ser, não é a mim que você tem que responder. Viva as diferenças, gente! E uma pitada de respeito, por favor.
Tenha perguntas. E se encontrar respostas, e estas te bastarem, vá ser feliz com elas (!)

 

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Gostos meus.

Gosto do antigo. De como as coisas eram, e de como evoluíram para chegar ao que temos hoje. Gosto das músicas, do formato dos bailes, da dança, da conquista – dos gestos. Dos poucos recursos que se tinham para fazer um momento especial a dois, onde os lugares mais simples eram os mais agradáveis. Gosto dos carros, da violência não declarada. Gosto de como dizem que comemoravam o carnaval. Das marchas, do saudável. Das revoluções. Da boemia, da música, dos charutos, dos chapéus, das roupas elegantes. Tudo me atrai, e me faz retornar a um tempo que adoraria ter vivido [revolucionando, acredito].
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Gosto do novo. Do hoje. Da facilidade encontrada e do espaço conquistado pelas mulheres – e gosto ainda mais do desafio que se tem quando a confusão ainda existe. Gosto da independência, da tecnologia facilitando o trabalho a ser desenvolvido.
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Eu pulso modernidade, mas com boas doses de tempos antigos e de uma época boa de se ter aproveitado.

Amor, só, não basta.


Por mais que o poder e o dinheiro tenham conquistado uma ótima posição no ranking das virtudes, o amor ainda lidera com folga. Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça bater forte o coração e justifique loucuras.
Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata. Que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado. Tem algum médico aí??? Depois que acaba esta paixão retumbante, sobra o que?
O amor.
Mas não o amor mistificado, que muitos julgam ter o poder de fazer levitar. O que sobra é o amor que todos conhecemos, o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho. É tudo o mesmo amor, só que entre amantes existe sexo. Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus.
A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.
Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência... Amor, só, não basta.
Não pode haver competição. Nem comparações. Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar. Amar, só, é pouco.
Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.
Entre casais que se unem visando à longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, 'solamente', não basta.
Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, falta discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado. O amor é grande mas não é dois.
É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência.
O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.
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Fonte informada: Artur da Távola