terça-feira, 28 de junho de 2011

My way - Frank Sinatra


Música boa de ouvir. De sentir.
Dança comigo?

for C. J.

Não é novidade minha identificação pela autora Martha Medeiros, para quem acompanha minhas postagens. Até as repito às vezes, por que me surpreendo com a repercussão de suas palavras para mim, o quanto elas me atingem, me submetem, me deixam sem graça e por vezes, pensativa demais. Mas esta seleção, em especial, tem destinário (ao qual não me remete). Identifiquei-o em todas as vírgulas, sem exceção nas leituras que seguem. For you, C. J.

"Sempre sabemos se amamos ou não alguém, mesmo que esteja escrito que é um amor que não serve, que nos rejeita, um amor que não vai resultar em nada. Costumamos desviar esse amor para outro amor, um amor aceitável, fácil, sereno. Podemos dar todas as provas ao mundo de que não amamos uma pessoa e amamos outra, mas sabemos, lá dentro, quem é que está no controle.
Podemos passar anos nos dedicando a um emprego sabendo que ele não nos trará recompensa emocional. Podemos conviver com uma pessoa mesmo sabendo que ela não merece confiança. Fazemos essas escolhas por serem as mais sensatas ou práticas, mas nem sempre elas estão de acordo com os gritos de dentro, aquelas vozes que dizem: vá por este caminho, se preferir, mas você nasceu para o caminho oposto. Até mesmo a felicidade, tão propagada, pode ser uma opção contrária ao que intimamente desejamos. Você cumpre o ritual todinho, faz tudo como o esperado, e é feliz, puxa, como é feliz. Mas você não queria ser feliz, queria viver.
"Eu não sei se teria coragem de jogar tudo para o alto".
- Sabe!
"Não sei se quero continuar com a vida que tenho"
- Sabe!
(...)
Viver não é seguro. Viver não é fácil. E não pode ser monótono. Mesmo fazendo escolhas aparentemente definitivas, ainda assim podemos excursionar por dentro de nós mesmos e descobrir lugares desabitados em que nunca colocamos os pés, nem mesmo em imaginação. E estando lá, rever nossas escolhas e recalcular a duração de “pra sempre”. Muitas vezes o “pra sempre” não dura tanto quanto duram nossa teimosia e receio em mudar.
Até por que, tem gente que perde um grande amor. Perde mais de um, até. E perde filhos, pais e irmãos. Tem gente que perde a chance de mudar de vida. E há os que perdem tempo. Os anos passam cada vez mais corridos, os aniversários se repetem. Tem gente que viu sua empresa desmoronar, sua saúde ruir, seu casamento ser atingido em cheio por um petardo altamente explosivo. Tem gente que achava que iria ter a chance de estudar mais tarde e não estudou. E tem os que acharam que iriam ganhar uma medalha por bom comportamento e não receberam nem um tapinha nas costas.
E no entanto ainda estamos de pé, porque não ficamos apenas contando os meses e os anos em que tudo se passou. Construímos outras torres no lugar. Não ficamos velando eternamente os atentados contra nossa pureza original. As novas torres que erguemos dentro serão sempre homenagens póstumas às nossas pequenas mortes e uma prova de confiança em nossas futuras glórias."
-

domingo, 26 de junho de 2011

Quindins na portaria (Martha Medeiros)

Martha Medeiros no texto abaixo traz reflexões importantes sobre proximidade e distâncias estabelecidas, assim como nos leva à discussão sobre as redes sociais, às utilizações dos emails, do estar junto, da ausência consentida. Boa leitura!

"Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura. Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa.
Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço."

quinta-feira, 23 de junho de 2011

... mais de Ana Jácomo.

Foi quando começou a não se importar tanto de sentir tanto medo, que ouviu o convite, ainda tímido, quase sussurro, do próprio coração, esse sabedor do que, de verdade, importa:
“Volta, com medo e tudo.”
Foi.
E começou a redescobrir que coragem, na maioria das vezes, é apenas voltar para o próprio coração. É apenas calar a ausência devastadora e infértil dele. É apenas sair do lugar para um ponto um pouquinho mais espaçoso e espalhador de sementes. É apenas seguir. Com medo e tudo.
(Ana Jácomo)

Cada vez mais as palavras e a essência da autora do texto acima tem conquistado meus olhares e admiração. Nada nessa vida funciona sem os pilares da confiança e do respeito, e ela de fato, tem conquistado minha credibilidade. O texto acima colocado, me trouxe reflexões sobre o retorno. O fazer-se presente. A volta, sem medo, e admissão dos verdadeiros sentimentos. Na mudança de rotina necessária. Entre tantas outras coisas a mais.

E a vida nos prega peças,

... e surpresas! Me sentindo na contramão e precisando de uma boa calibragem. Querendo entendimento e edificação. Querendo equilíbrio e boas doses de entrega absoluta. Querendo momentos, querendo unificar a linguagem, da melhor forma de se ter. Querendo parar um pouco, querendo sentir mais. Querendo saber, querendo acompanhar, querendo tanto. 

"Mas, se pudermos parar um pouquinho e afastar o sentimento dessa roda-viva, é possível notar o quanto a nossa vida está ligada a outras tantas numa rede invisível, tecida com fios de puro sentimento. Gente que já passou e nem sabemos mais por onde anda. Gente que continua próxima dos nossos olhos e do nosso amor. Gente, cuja vida esbarra na nossa de forma muito rápida, mas nem por isso o encontro é menos valioso.
Não estamos separados, como tantas vezes sentimos. É fantástico ter olhos para ver a amorosa rede de conexões que cada vida representa. Quando tratamos uma pessoa com gentileza, respeito, cuidado, não é somente ela que está sendo tocada, mas toda a infinidade de inter-relações envolvidas com a sua passagem pelo mundo, as que já existem e as que poderão vir a existir. Tocamos, em desdobramento, outras tantas histórias e possibilidades vinculadas àquela vida, única e intransferível. Cada pessoa é muita gente, além da preciosidade de ser simplesmente quem é.
Como parte dela, não somos, por essência, diferentes. Precisamos aprender a respirar melhor e a ajudar, cada um do seu jeito, que outras vidas também respirem com mais facilidade. Não precisa ser por meio de feitos espetaculares. Pode ser nas miudezas do dia-a-dia, no improviso de cada instante. Isso já é grande à beça."
(Ana Jácomo)

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um porre, por favor!

"Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me sequestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor. Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia".
(Caio Fernando de Abreu)

Aprendendo a desaprender.


Passamos a vida inteira ouvindo os sábios conselhos dos outros. Tens que aprender a ser mais flexível, tens que aprender a ser menos dramática, tens que aprender a ser mais discreta, tens que aprender... praticamente tudo.
Mesmo as coisas que a gente já sabe fazer, é preciso aprender a fazê-las melhor, mais rápido, mais vezes. Vida é constante aprendizado. A gente lê, a gente conversa, a gente faz terapia, a gente se puxa pra tirar nota dez no quesito "sabe-tudo". Pois é. E o que a gente faz com aquilo que a gente pensava que sabia?
As crianças têm facilidade para aprender porque estão com a cabeça virgem de informações, há muito espaço para ser preenchido, muitos dados a serem assimilados sem a necessidade de cruzá-los: tudo é bem-vindo na infância. Mas nós já temos arquivos demais no nosso winchester cerebral. Para aprender coisas novas, é preciso antes deletar arquivos antigos. E isso não se faz com o simples apertar de uma tecla. Antes de aprender, é preciso dominar a arte de desaprender.Desaprender a ser tão sensível, para conseguir vencer mais facilmente as barreiras que encontramos no caminho. Desaprender a ser tão exigente consigo mesmo, para poder se divertir com os próprios erros. Desaprender a ser tão coerente, pois a vida é incoerente por natureza e a gente precisa saber lidar com o inusitado. Desaprender a esperar que os outros leiam nosso pensamento: em vez de acreditar em telepatia, é melhor acreditar no poder da nossa voz. Desaprender a autocomiseração: enquanto perdemos tempo tendo pena da gente mesmo, os dias passam cheios de oportunidades.
A solução é voltar ao marco zero. Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar.

(Martha Medeiros)

domingo, 19 de junho de 2011

A Marcha das Vadias.

Peguei na internet:

“Essa menina é uma vadia, galinha”. Do outro lado da rua, uma conhecida caminhava com o namorado. “Ela já ficou com todo mundo”. Me impressiono com a afirmação: “É mesmo? Enquanto eles estavam juntos?”. “Não, não, ela estava solteira na época”. Frases assim são mais do que comuns, sejam elas ouvidas ou – pior – ditas por nós.
“Vadia”, é um termo recorrente na boca de homens e mulheres. Serve para classificar alguém do sexo feminino de forma pejorativa a partir do nosso olhar julgador sobre essa pessoa. Pode ser por sua roupa, sapato alto, rebolado, passado amoroso, olhos verdes, tragédia familiar, vida acadêmica e profissional ou qualquer outra característica absolutamente arbitrária considera uma ameaça aos bons e velhos costumes.
Resolveu ir com um vestido curto na faculdade? Chame-se Geisy ou não, você será declarada como vadia. Transou com o cara no primeiro encontro? Vadia, disponível. Já teve mais de cinco namorados? Nossa, vadia! Foi estuprada? Mas como você estava se comportando? Você não deu brecha, não se fez de vadia?
Parece exagero, mas foi justamente dessa última situação que surgiu, no Canadá, a SlutWalk (ou Marcha das Vadias). Trata-se de um protesto em resposta ao comentário de um policial, que orientou universitários dizendo: "Se a mulher não se vestir como uma vadia, reduz-se o risco de ela sofrer um estupro".
“O que é vestir-se como uma vadia?”, questionaram as canadenses. E saíram às ruas para dizer que agiriam como quisessem e vestiriam o que tivessem vontade. O movimento, que começou em Toronto, já chegou a mais de 50 cidades no mundo, entre elas Buenos Aires, Londres, Nova York e Johanesburgo.
É por isso que temos que importar a Marcha das Vadias! O Brasil precisa, com urgência, de um movimento como esse. No mínimo para contestar publicamente quem faz piada sobre estupro como quem fala do aumento do pãozinho francês. E, quiçá, para conseguir discutir de fato como, em pleno século XXI, a mulher ainda não é livre para fazer o que bem entender.
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A Marcha das Vadias (SlutWalk) é a reedição da lendária Queima dos Sutiãs (Bra-Burning), após quase 43 anos, com o mesmo fim: visibilizar e escrachar o patriarcado em sua forma cotidiana e cruel – o machismo, esteio da violência contra a mulher?
O feminismo tem tradição de fazer política ousada e criativa, demonstrando, de modo inteligível e de fácil assimilação, que a opressão feminina é um fenômeno pancultural, pois o patriarcado é um sistema cultural e político arcaico – que vê as mulheres como vadias -, sobrevivente e entranhado em todo tipo de Estado contemporâneo. Logo, a ideologia e a luta feministas, não esqueçam, ainda são “da hora”!
É brisa nova a Marcha das Vadias, que invade o mundo como uma onda… Iniciada em Toronto (Canadá), em abril de 2011, como resposta política a um discurso machista de uma autoridade policial, estribado num argumento que tenta nos impor, há séculos, que “quem se veste como vadias estimula crimes sexuais”! Universitárias canadenses foram às ruas, numa performance para antropologia da moda nenhuma botar defeito: roupas putíssimas, estilo matadeira! É a moda fetichista da Daspu, que é um deslumbre, fazendo escola! Estopim chique no último: “A roupa como manifestação simbólica de opiniões libertárias” (O TEMPO, 21.9.2010).
(Fátima Oliveira, médica, no blog SaúdecomDilma)


Ou será que é normal sofrer uma trágica e forçada agressão ao nosso corpo e mente e ainda assim nos sentirmos culpadas? Não restam dúvidas de que estupro é um medo presente na mente das mulheres e o distúrbio mental vem da parte do agressor. E não das nossas peças de roupas! Sim, vamos continuar nos vestindo do jeito que quisermos. Sempre.

Pelo mundo
A primeira Slut Walk aconteceu no início de maio no Canadá, e se espalhou pelo mundo. As mulheres da Argentina, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda e Nova Zelândia já deram seu grito contra o conceito machista de que a mulher pediu pra ser estuprada. Podemos garantir que nenhuma de nós faria este tipo de pedido. No próximo sábado, dia 4, a passeata acontece em São Paulo, Los Angeles, Chicago, Edmonton, Estocolmo, Amsterdã e Edimburgo. E no dia 18 de junho em Belo Horizonte.
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Recife, 11 de junho de 2011

Refletindo...

A marcha é contra o estupro. Não é sobre a roupa que se veste, sobre nível de escolaridade, se existe cultura ou não. O movimento é contra o machismo, haja vista muitas mulheres serem estupradas ou assassinadas.
Estou adepta ao movimento e à causa defendida, porém a discussão envolve mais determinantes sociais. Envolve personagens de novelas das oito incentivando o uso e criando adeptas aos vestidos curtíssimos, associadas a valores morais e culturais "vadios" e longes de serem inocentes. Envolve a atração visual masculina e posicionamentos femininos. A mulher tem armas de sedução, e ninguém pode negar isso. Concordo que a mulher não deve ser caracterizada culpada pelo ato de violência seríssimo que é o estupro, mas negar que um decote ou uma saia curta não atiça olhares é hipocrisia. A briga aqui tem uma conotação maior e, quiçá, mais abrangente.
As pessoas rotulam demais. O preconceito ainda é por demais presente nas conversas, nos olhares, nas atitudes, nas intervenções. Querer acreditar que já chegamos num nível alto de discussão sobre segregações dos negros, das prostitutas, ou dos homossexuais também é fechar os olhos. As pessoas segregam, sim, e as mais diversas formas de expressão e violência estão nos jornais!
Como toda manifestação e participação popular, os resultados e as opiniões são diversas. A polêmica é iniciadora. O foco e os debates ficam afiados, os olhares e os pensamentos ficam mais cuidadosos.
O ser humano é voltado para sinalizações visuais (é fato). Assistir a uma aula com um professor ao qual tenha uma melancia na cabeça tira a atenção dos seus alunos. O atendimento ao público por si só já possui regras de etiquetas trabalhistas: brincos pequenos, ombros cobertos, saias discretas, e etc para mulheres.
Porém, o movimento, mais do que uma discussão para "vestir o que quiser", é uma ação contra esse ato vândalo e violento contra as mulheres.  

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Despretensiosa.

"Você está onde queria estar, seguindo pra onde quer ir e ao lado das pessoas que você quer levar com você?"

O que realmente importa? O que faz ou não faz sentido? Em que você acredita? Em QUEM você realmente acredita? O que lhe faz sentir-se motivado? No que você colabora? O que o faz rir? Chorar? Cantar de alegria ou explodir de dor? O que lhe frustra? O que o faz disputar?

Perguntas como estas nos faz refletir e exigem respostas francas. Ajudam-nos no processo de auto conhecimento e aceitação. Por que quando tratamos de nós mesmos, ninguém consegue interpretar alguém por muito tempo. Independente de quem somos ou de nossas caracteríticas, sabemos quando devemos calar ou falar; bem como quando devemos avançar ou recuar, ou quando devemos agir ou esperar... Acabamos aprendendo a respeitar quem os outros são e como os contextos dos outros também são importantes.
Existem momentos para tudo, mas a ação com conteúdo sempre deve estar presente em todos os momentos. Todos temos, em intensidades maiores ou menores, a razão e a emoção, convivendo com maior ou menor harmonia dentro de nós mesmos. E cada um deve conhecer muito bem como esta harmonia acontece para buscar o seu próprio equilíbrio. Conheça-se!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Difícil saber.

“Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro.”

Caio Fernando Abreu.





Eu me recuso.

A viver uma vida sempre morna.
A não arriscar por medo.
A ficar em segredo.
Me recuso a não transpor tanto sentimento.
A encarar a vida tão estática, sem movimento.
Me recuso a não ter o prazer que é ter nossa soma.
Com altos, baixos, e muitas surpresas.
Me recuso também a ter pouco. Quero muito, quero tudo, quero o completo.
Quero mais. Quero por mim, pelo carinho, pelo que sentimos.
Me recuso, e recusando, estou fazendo uma escolha por nós dois.
Já fiz, e ponto.

E agora, palavras e um cheiro de flor quando ri -
"E a vida é tão mágica que, lá no fundo mais fundo do oceano nada pacífico de cada uma delas, lá no instante ou quase em que a pilha da lanterna acaba, a gente descobre um jeito novo, muito lindo, muito nosso, comovente muitas vezes, para conseguir emergir e transformar o que parecia impossível de transformação. E não é exagero dizer que geralmente emergimos mais corajosos. Mais ternos. Mais bondosos. Mais nós mesmos. Mais conscientes do que, de verdade, nos importa. Com mais urgência de nos sentirmos felizes na nossa própria pele."
Ana Jácomo

domingo, 12 de junho de 2011

Dia bom.

Dia pra se comemorar com um bom vinho na mesa, uma boa comida, com a melhor companhia elegida. Dia pra se curtir, dar o ombro, estar bem, renovar votos de estima, apreço, amor e magia.
- E que dia é esse, tão especial assim?
- Dia de domingo, cheio de representatividade. Dia pra se descansar, pra ter por perto quem se quer bem, renovar-se para iniciar a semana. Dia bom, com gosto de praia, de amigos reunidos, gostinho de rede e terraço juntos. Dia de namorar, de assistir filmes, de curtir com intensidade cada horinha dada.
- E se não tiver namorado?
- Que tem? O dia está aí, todinho pra você e pra quem quiser inserir nele. Ser feliz tem prazo curto de execução.
- E quando esse dia de domingo está associado ao dia dos namorados?
- Melhor junção de comemoração, para quem se dá e se tem. Mas assim como a maioria das datas comemorativas, dia de namorar e comemorar o namoro não está limitado e condicionado a só este dia, seria muita mesquinharia. Namora quem está embriagado, namora quem tem para dar todos os dias, namora quem encontra sabor. Os dias de domingo são os melhores - mas dias de segundas, terças, quartas, quintas, sextas e sábados também caem muito bem. Em todos os meses (e dias) do ano também. 
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‎"E quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia."
(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 5 de junho de 2011

A história de uma bruxa.

Era uma vez uma linda bruxinha urbana (e do bem) chamada Min. Ela não morava no meio da mata, não lidava com morcegos e não tinha uma vassoura como transporte. Ela era especialista em poções para o encantamento, conhecedora do amor e possuidora de um sentimento transbordante, mas não sabia exatamente o que fazer com ele pela pouca idade que possuia. Resolveu, depois de muito pensar, utilizar todo esse sentimento investindo em poções mágicas para conselhos de amor, para que as outras pessoas assim que obtivessem a poção, soubessem exatamente o que fazer com o outro, o bendito ser amado.
O que ela não esperava é que no meio dessa vida urbana, louca e na rotina de doar poções de conselhos, se deparasse com uma nova experiência de se apaixonar novamente por um encantador esperto, malicioso e cheio de histórias mágicas - surgiu do nada e subitamente para confudi-la.
Ela tentou utilizar sua sabedoria, suas poções, inclusive a dos conselhos que ela mesma era especialista em fazer - até funcionaram no começo, mas estavam com prazo de validade muito próximo. A bruxinha quis fugir, mas não tinha mais controle do que sentia: era a saudade que sufocava, a surpresa que ela queria, a mudança necessária a qual ela esperava. Os dois viveram momentos apaixonantes juntos, deliciosos de se ter e serem cantados - eram sempre encontros de magia: imaginem, uma bruxa e um encantador historiador! Ela deu seus melhores abraços, seus melhores beijos, seus melhores sorrisos.
Passou-se um tempo, e a bruxinha ficou com medo. Percebeu que o encantador, embora apaixonante e também com muitas explicações, só queria mais uma aventura, e ele também tinha prazo, prazo de estadia - não ia ficar por muito tempo - tinha várias histórias e viagens pra concluir. Ele, o encantador, embora não tivesse a intenção de mentir, ofereceu sentimento demais ao qual não podia cumprir, nem obedecer, e estabeleceu condições pesadas demais pra que a paixão toda pudesse resistir.
A bruxinha desanimou - era um misto de frustração e decepção que a invadia todas as noites que decidiu não mais insistir. Embora tivesse outros pretendentes, não encontrava magia em nenhum - o que, pra uma bruxa, é demasiado importante para se deixar aproximar. Ela até tentou, antes de conhecer o encantador, a dar um pouco da magia que tinha para alguns, mas nunca era suficiente pra os dois, e obviamente, depois também decidiu a não exercer mais essa prática, decidiu verdadeiramente pela troca mágica, recíproca e equanime de sentimentos com alguém que pudesse surgir na cidade urbana e agitada ao qual ela vivia. Alguém que pudesse dar segurança e calma ao seu coração, assim como enche-lo de amor e a trilharem caminhos juntos.
O encantador sumiu aos poucos e não estabeleceu mais compromissos de encontros para que os dois se aproximassem. Deixou de aparecer e de alimentar todo aquele sentimento bom que nasceu. Os dois estavam com dias contados, quem sabe com algum resquício de amizade quando ele voltasse de uma das suas viagens. Ela voltou aos poucos a rotina a qual estabelecera. Não era a primeira, nem a maior decepção ao qual estava ligada, mas era uma perda, o que trouxe a ela alguma dificuldade inicial emocional.
Min como nunca deixou de produzir as poções de conselhos, sempre pesquisava outros ingredientes, descobrindo assim novas fórmulas e poções. Se voltou para a produção de como mudar o mundo com todo aquele sentimento transbordante e bom que tinha: as poções as quais produzia sempre funcionaram para os outros - e isso era suficiente pra ela associado ao momento que ela estava vivendo.
Min continuou estudando, continuou crescendo, investindo, sendo feliz e utilizando todos os seus dons em benefício individual e coletivo. Até que conheceu Quen.
Ele também era um bruxo, mágico e com um olhar que fascinou Min no primeiro momento em que se viram. Tiveram algumas divergências e competividades de feitiços no início, mas sempre chegavam num consenso mágico. Quen e Min viveram sua história de amor, tiveram jantares românticos aos montes, dançaram embebedados por poções com o mar de testemunha inúmeras vezes, fizeram canções, andavam de mãos dadas, tinham o tempo ao seu favor, tinham suas profissões, seus salários, viviam a vida com a singularidade que ela possui, e respeitaram-se muito. Os dois casaram com a maturidade que a vida lhes deu (e com as decepções que os encantadores proporcionaram), e tiveram dois filhos, Tel e Dav, aos quais deram continuidade às mágicas e aos projetos de continuar mudando o mundo com todo sentimento bom e motivador difundido possível. A família fez e tentou de tudo para serem felizes sempre.
ps.: embora nem sempre conseguissem por estarem incluídos no século 21.

Moral da história:
- Não pense que está sobre controle de tudo, a vida lhe prega surpresas;
- Invista sim, o melhor de você sempre: seu melhor de hoje com certeza será superado com seu melhor de amanhã, e você estará com um somatório de seus melhores momentos com o passar do tempo;
- Dê às experiências não exitosas a importância que elas merecem ter: tire o melhor de todas as situações;
- Ofereça sempre o que pode oferecer: não ofereça grandiosidades e intensidades demasiadas sem poder executá-las, siga seus limites e tenha consciência do papel que você exerce;
- Não desanime e confie no tempo, em si mesmo, e não se agarre a qualquer possibilidade por ansiedade;
- Invista em você mesmo, sempre - não pare;
... E embora você tenha na sua trajetória decepções e atribua em determinado momento da sua vida a responsabilidade de ser feliz a outra pessoa, a paciência e o amor próprio são aliados fundamentais para contribuição de um final feliz e coerente - baseados nas expectativas de vida as quais você traça, e no que é prioridade para alcance dos seus objetivos. 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Banho de energias.

Você vai acabar descobrindo que por mais que a vida lhe pregue peças e surpresas negativas, não adiantarão as reclamações. Você vai acabar sentindo que retomar práticas simples e não muito preocupadas com a vida te levarão a lugares melhores de se estar. Acabará por atrair pessoas mais leves de se terem por perto, assim como razões mais óbvias e transparentes de tomar decisões. Descobrirá que o importante mesmo não é a quantidade de bens que conseguiu adquirir, e sim como os utilizará para trazer felicidade. Por mais complexa que sua rotina esteja vinculada e por mais absurdo que seja relembrar velhos hábitos tranquilos de levar a vida, mesmo assim ainda valerá a tentativa.
Caminhar na praia, sentir a areia fria junto ao vento forte, e ainda ter a lua como testemunha. Ter tempo para saborear uma boa comida e dar boas risadas do nada, de todos, dos contextos absurdos ao qual somos submetidos, e ter a companhia de alguém que nos faça bem. Lembrar dos velhos amigos, a muito tempo não vistos, e trocar as mais novas conquistas e confidências - ou até mesmo as melhores baboseiras. Permitir-se. Relaxar. Tirar férias - de si mesmo. Ser massageado. Ter vinho, ou wisky, ou algo que você goste de embriagar-se. Ouvir a uma boa música, sair sem hora pra voltar. Ter tempo. Tempo de dedicar-se. Tempo pra fazer tudo, e nada. Tempo pra amar. Retribuir amor. Espalhar sorrisos e abafar qualquer tipo de dor.
E acabaremos descobrindo que de nada valerá o esforço de não querer a mudança nos hábitos, e de continuar vivendo a velha vida sem surpresas de sempre. Que alimentar ilusões, mentir para si mesmo e para quem está envolvido no contexto não trará nenhum final ao qual você já não esteja vivenciando: ligações monótonas, relacionamentos complicados, energias negativas, bolas de neve de problemas e a saúde sendo por demais comprometida com essa avalanche de informações e falta de soluções.


Quando as pessoas vão simplificar e decidirem viver o melhor jeito de levar a vida? Encontre facilidade nas suas ações. Otimize seu tempo. Invista sentimentos. Dê sorrisos. Faça surpresas. Ame. Suspire. Permita-se. Coloque flores na sua vida, perfume nas palavras, doçura nos olhares. Vá viver - e exale essência de felicidade!

E...

Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da cartola. E refaço. Colo. Pinto e bordo. Porque a força de dentro é maior. Maior que todo mal que existe no mundo. Maior que todos os ventos contrários. É maior porque é do bem. E nisso, sim, acredito até o FIM.


(Caio Fernando Abreu)

Inaugurando o mês de junho. Não deixando de fazer uma ressalva: o ano de 2011 mal começou e já entramos no 6º mês. - Rápido demais! 
Mês que adoro, que curto, que me traz energias boas, sempre. Já sentindo o gosto bom de comidas típicas, do tempero de vó que eu adoro, das danças, das bandeirinhas, das fogueiras, do xadrez, e de tantos outros detalhes que fazem desse mês meu preferido do ano, sem dúvida.