Peguei na internet:
“Essa menina é uma vadia, galinha”. Do outro lado da rua, uma conhecida caminhava com o namorado. “Ela já ficou com todo mundo”. Me impressiono com a afirmação: “É mesmo? Enquanto eles estavam juntos?”. “Não, não, ela estava solteira na época”. Frases assim são mais do que comuns, sejam elas ouvidas ou – pior – ditas por nós.
“Vadia”, é um termo recorrente na boca de homens e mulheres. Serve para classificar alguém do sexo feminino de forma pejorativa a partir do nosso olhar julgador sobre essa pessoa. Pode ser por sua roupa, sapato alto, rebolado, passado amoroso, olhos verdes, tragédia familiar, vida acadêmica e profissional ou qualquer outra característica absolutamente arbitrária considera uma ameaça aos bons e velhos costumes.
Resolveu ir com um vestido curto na faculdade? Chame-se Geisy ou não, você será declarada como vadia. Transou com o cara no primeiro encontro? Vadia, disponível. Já teve mais de cinco namorados? Nossa, vadia! Foi estuprada? Mas como você estava se comportando? Você não deu brecha, não se fez de vadia?
Parece exagero, mas foi justamente dessa última situação que surgiu, no Canadá, a SlutWalk (ou Marcha das Vadias). Trata-se de um protesto em resposta ao comentário de um policial, que orientou universitários dizendo: "Se a mulher não se vestir como uma vadia, reduz-se o risco de ela sofrer um estupro".
“O que é vestir-se como uma vadia?”, questionaram as canadenses. E saíram às ruas para dizer que agiriam como quisessem e vestiriam o que tivessem vontade. O movimento, que começou em Toronto, já chegou a mais de 50 cidades no mundo, entre elas Buenos Aires, Londres, Nova York e Johanesburgo.
É por isso que temos que importar a Marcha das Vadias! O Brasil precisa, com urgência, de um movimento como esse. No mínimo para contestar publicamente quem faz piada sobre estupro como quem fala do aumento do pãozinho francês. E, quiçá, para conseguir discutir de fato como, em pleno século XXI, a mulher ainda não é livre para fazer o que bem entender.
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A Marcha das Vadias (SlutWalk) é a reedição da lendária Queima dos Sutiãs (Bra-Burning), após quase 43 anos, com o mesmo fim: visibilizar e escrachar o patriarcado em sua forma cotidiana e cruel – o machismo, esteio da violência contra a mulher?
O feminismo tem tradição de fazer política ousada e criativa, demonstrando, de modo inteligível e de fácil assimilação, que a opressão feminina é um fenômeno pancultural, pois o patriarcado é um sistema cultural e político arcaico – que vê as mulheres como vadias -, sobrevivente e entranhado em todo tipo de Estado contemporâneo. Logo, a ideologia e a luta feministas, não esqueçam, ainda são “da hora”!
É brisa nova a Marcha das Vadias, que invade o mundo como uma onda… Iniciada em Toronto (Canadá), em abril de 2011, como resposta política a um discurso machista de uma autoridade policial, estribado num argumento que tenta nos impor, há séculos, que “quem se veste como vadias estimula crimes sexuais”! Universitárias canadenses foram às ruas, numa performance para antropologia da moda nenhuma botar defeito: roupas putíssimas, estilo matadeira! É a moda fetichista da Daspu, que é um deslumbre, fazendo escola! Estopim chique no último: “A roupa como manifestação simbólica de opiniões libertárias” (O TEMPO, 21.9.2010).
(Fátima Oliveira, médica, no blog
SaúdecomDilma)
Ou será que é normal sofrer uma trágica e forçada agressão ao nosso corpo e mente e ainda assim nos sentirmos culpadas? Não restam dúvidas de que estupro é um medo presente na mente das mulheres e o distúrbio mental vem da parte do agressor. E não das nossas peças de roupas! Sim, vamos continuar nos vestindo do jeito que quisermos. Sempre.
Pelo mundo
A primeira Slut Walk aconteceu no início de maio no Canadá, e se espalhou pelo mundo. As mulheres da Argentina, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda e Nova Zelândia já deram seu grito contra o conceito machista de que a mulher pediu pra ser estuprada. Podemos garantir que nenhuma de nós faria este tipo de pedido. No próximo sábado, dia 4, a passeata acontece em São Paulo, Los Angeles, Chicago, Edmonton, Estocolmo, Amsterdã e Edimburgo. E no dia 18 de junho em Belo Horizonte.
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Recife, 11 de junho de 2011
Refletindo...
A marcha é contra o estupro. Não é sobre a roupa que se veste, sobre nível de escolaridade, se existe cultura ou não. O movimento é contra o machismo, haja vista muitas mulheres serem estupradas ou assassinadas.
Estou adepta ao movimento e à causa defendida, porém a discussão envolve mais determinantes sociais. Envolve personagens de novelas das oito incentivando o uso e criando adeptas aos vestidos curtíssimos, associadas a valores morais e culturais "vadios" e longes de serem inocentes. Envolve a atração visual masculina e posicionamentos femininos. A mulher tem armas de sedução, e ninguém pode negar isso. Concordo que a mulher não deve ser caracterizada culpada pelo ato de violência seríssimo que é o estupro, mas negar que um decote ou uma saia curta não atiça olhares é hipocrisia. A briga aqui tem uma conotação maior e, quiçá, mais abrangente.
As pessoas rotulam demais. O preconceito ainda é por demais presente nas conversas, nos olhares, nas atitudes, nas intervenções. Querer acreditar que já chegamos num nível alto de discussão sobre segregações dos negros, das prostitutas, ou dos homossexuais também é fechar os olhos. As pessoas segregam, sim, e as mais diversas formas de expressão e violência estão nos jornais!
Como toda manifestação e participação popular, os resultados e as opiniões são diversas. A polêmica é iniciadora. O foco e os debates ficam afiados, os olhares e os pensamentos ficam mais cuidadosos.
O ser humano é voltado para sinalizações visuais (é fato). Assistir a uma aula com um professor ao qual tenha uma melancia na cabeça tira a atenção dos seus alunos. O atendimento ao público por si só já possui regras de etiquetas trabalhistas: brincos pequenos, ombros cobertos, saias discretas, e etc para mulheres.
Porém, o movimento, mais do que uma discussão para "vestir o que quiser", é uma ação contra esse ato vândalo e violento contra as mulheres.