segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mais uma, por favor!

Só mais uma, por favor. Umazinha só. Aqui, à mesa. Eu estou com sede. Estou de fogo. Estou carente. Traga, urgente. Está me ouvindo? Eu pago o que for preciso. Quanto é, meu amor? Sei que você já fechou as portas. Do seu coração. O seu juízo em combustão. Tanta confusão na cabeça. Eu entendo. Mas suplico. Uma única, juro. Para entrar num susto. Num gole, num fôlego. Um sentimento gostoso. A derradeira força. Eu peço. Como se pede um abraço. Um afago. Um beijo. Cavalheiro, prometo. Será a última. E não volto mais. Não encherei o seu saco. Desaparecerei do pedaço. Você não me verá depois dessa. Rastejar para quem quer que seja. Essa agonia. Essa ladainha. Essa peleja. Mas hoje eu necessito. Para alegrar o meu inferno. Pessoal. O trânsito que tem atropelado. O meu astral. Uma paixão que foi embora. Na boca da estrada. Essa lembrança que me mata. Feito vício. Deixa tonta a minha memória. Agora, já. Por que essa demora? Este desprezo? Estou com medo. Tenho pavor. O mundo derretendo. As camadas de gelo. O sol cinza. Desta cidade de São Paulo. Ave! Umazinha só, repito. Aqui, ó. Sou eu. Este farrapo humano, perdido. Em que nos tornamos. Todos juntos. A caminho do mesmo abismo. Moço, mocinha. Faz de conta de que sou um enforcado. À beira da sarjeta. Um calabouço aberto. Um buraco no concreto. Eu peço: misericórdia! Eu tenho direito. Venha olhar você no meu olho. Esquerdo. Estou no escuro do fundo do poço. É agora ou nunca. Um gesto só. Solidário, para sempre. Você me entende? Nem precisa ser a mais forte. Daquelas que a gente recebe. Direto da fonte. A mais gostosa, a mais quente. Não precisa ser a melhor. De repente, aquela que você tiver. Aí, jogada. Sem valor. Esquecida na estante. Ela me serve. Na prateleira, ela me serve. Em qualquer chão de bandeja. É essa que eu quero. Sério. A única. Chame o Marquinhos, o dono do bar. Eu falo com ele. Da importância que será. Neste momento em que tento escapar. De uma hecatombe. Em que tento me sustentar. Levantar os ossos. Para continuar. A luta. Essa vida que não tem cura. Difícil de equilibrar. Eu espero. O tempo que for. E aí? Vai dar ou não vai dar? Que porre! Para a minha alma bêbada, pô! Uma palavrinha só resolve. . Marcelino Freire, escritor pernambucano

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