Eu realmente acreditava que o que me fazia amar
um homem era a inteligência. Elucubrações e digressões me impressionavam.
Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em
mim. Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro
invejável, citações brilhantes, se ele não rir das próprias besteiras, se não
souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente. Então percebi: bom
humor era essencial.
É delicioso estar com alguém que vive sem
arrastar correntes e faz dos pequenos horrores cotidianos inevitáveis piadas. Só
que nem tudo é uma piada e, em certas horas, quero alguém que me conforte a
alma. Nesses momentos, nada pior do que ser levada na brincadeira - existe uma
imensa diferença entre a alegria de viver e a recusa a sair da infância. Então
fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo,
a sensibilidade.
Telefonemas de bom-dia, olhares que vêem,
pequenos gestos incontidos - tudo o que eu podia querer. Ou quase. Só sobrevive
ao meu lado alguém que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso,
demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser
cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um
moleque preso no complexo de Peter Pan. Quero ser domada, tomada.
Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me
faziam amar alguém. Talvez fosse virilidade.
Mal abrir a porta da sala e ser consumida por
beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha. Ser desejada com urgência é
um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada
adianta: quando acaba o suadouro, o que resta? Se o que interessa é a
movimentação, tudo bem. Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio
de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhado de
cuidado, carinho. Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental pra despertar
meu amor. Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a
visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora de um
desconhecido.
Um dia, cansei de tentar adivinhar. E, nesse
dia, após tantas enumerações paralisantes e neuróticas, descobri. Hoje sei
exatamente o que me faz amar um homem: o amor existir. Quando é necessário
justificá-lo, procurá-lo, racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali.
Simples assim.
(Ailin Aleixo)