domingo, 5 de agosto de 2012

O que me faz amar um homem.

Eu realmente acreditava que o que me fazia amar um homem era a inteligência. Elucubrações e digressões me impressionavam. Conhecimentos literários, artísticos, práticos seduziam a eterna adolescente em mim. Mas descobri que não era isso que me fazia amar: de nada adianta um cérebro invejável, citações brilhantes, se ele não rir das próprias besteiras, se não souber aproveitar as delícias do ócio de um sábado quente. Então percebi: bom humor era essencial.
É delicioso estar com alguém que vive sem arrastar correntes e faz dos pequenos horrores cotidianos inevitáveis piadas. Só que nem tudo é uma piada e, em certas horas, quero alguém que me conforte a alma. Nesses momentos, nada pior do que ser levada na brincadeira - existe uma imensa diferença entre a alegria de viver e a recusa a sair da infância. Então fui invadida pela certeza de que o que me fazia amar alguém era, antes de tudo, a sensibilidade.
Telefonemas de bom-dia, olhares que vêem, pequenos gestos incontidos - tudo o que eu podia querer. Ou quase. Só sobrevive ao meu lado alguém que grite comigo quando eu passar dos limites do bom senso, demonstre desagrado quando eu exigir demais e oferecer de menos. Preciso ser cuidada, mas preciso da certeza de estar com um homem de verdade e não com um moleque preso no complexo de Peter Pan. Quero ser domada, tomada.
Nem inteligência, bom humor ou sensibilidade me faziam amar alguém. Talvez fosse virilidade.
Mal abrir a porta da sala e ser consumida por beijos. Ter a roupa arrancada no caminho da cozinha. Ser desejada com urgência é um dos maiores elogios que uma mulher pode receber, mas só ser desejada de nada adianta: quando acaba o suadouro, o que resta? Se o que interessa é a movimentação, tudo bem. Mas se existe a possibilidade de ser esmagada pelo vazio de sentido após o orgasmo, de nada vale. Pelo menos se não vier acompanhado de cuidado, carinho. Pensei, então, que ele seria a pedra fundamental pra despertar meu amor. Mas carinho é um sentimento abrangente demais: nos invade desde a visão de um cachorro abandonado até a palavra confortadora de um desconhecido.
Um dia, cansei de tentar adivinhar. E, nesse dia, após tantas enumerações paralisantes e neuróticas, descobri. Hoje sei exatamente o que me faz amar um homem: o amor existir. Quando é necessário justificá-lo, procurá-lo, racionalizá-lo, é sinal de que ele não está ali.

Simples assim.

(Ailin Aleixo)

Liberta.

"Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como “eu jamais vou fazer isso” ou “nem morta eu faço aquilo”, limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto."

E este pequeno trecho de Martha Medeiros me caiu como uma luva em plena noite de domingo. Com milhões de pensamentos e sentimentos explodindo por dentro, e uma confusão que por si só me deixa sem ação (e sem palavras).